A Revolução na Indústria de Animes: Apenas não percebemos ainda – Por Mister

O artigo de hoje foi produzido pelo nosso leitor, companheiro e moderador do server do Anime Xis no Discord Mister, que trouxe um pouco de seu conhecimento e suas opiniões referentes a atual industria da animação japonesa. Leiam com atenção que com certeza vai fazer vocês pensarem um pouco no que vêm acontecendo. Fiquem a vontade para opinar nos comentários!

Revolução dos animes!

Recentemente, várias pessoas elaboraram artigos afirmando que a indústria dos animes sofreria alterações drásticas no futuro, porém pouquíssimo se comenta sobre a lenta e silenciosa revolução que está ocorrendo no universo das animações japonesas.

Antes de começarmos serão necessárias algumas explicações básicas: essa possível revolução não acabará com os animes, o último anime de sucesso mundial não é pokémon, nenhum gênio supremo apareceu e mudou a indústria, nenhum animador foi a beira de um rio proclamar essa revolução e nenhuma empresa internacional está interessada em fomentar a indústria exclusivamente para o bem dos animes e alegria geral dos fãs.

Você deve estar questionando quais são as evidências da existência dessa tal revolução? Quais as causas dessa revolução? Quais as consequências futuras? Espero que ao final do texto todas as questões sejam esclarecidas de maneira satisfatória, lembrando sempre que não somos donos da verdade absoluta, o leitor possui todo o direito de discordar e criticar esse que vos escreve.

Evidências:

Vocês entenderam a referência, né?!

No total temos 3 evidências:

Made in China:

Em 2013, ocorreu à fundação da Haoliners Animation, antes disso já existiam inúmeras empresas especializadas em produzir animações chinesas, porém nenhuma delas possuía o objetivo de comercializar globalmente suas obras. A Haoliners muda esse panorama quando, em 2015, adquiriu um estúdio japonês para produção de animes baseados em obras chinesas. Entre esses animes podemos citar: Reikenzan, Hitori no Shita, Gin no Guardian, Centaur no Nayami, To Be Hero.

Várias outras empresas internacionais investem em animes baseados em obras locais, a Tencent Animation produziu a adaptação da novel Quan Zhi Gao Shou, Production I.G. adaptou o manhwa Noblesse, a Madhouse faz adaptações de franquias da Marvel. Sempre existiram excelentes obras não-japonesas, entretanto em raras ocasiões tivemos tanta influência estrangeira nos estúdios japoneses, seja econômica ou criativa.

Animes inesperados:

Muitas pessoas gostam de acompanhar os rankings de vendas de mangás, para tentarem prever futuras adaptações. Baseando-se no princípio de que normalmente são adaptados mangás que vendem bem e com potencial de aumento de vendas. Na atualidade, várias adaptações são de obras que fogem desse “padrão”, temos animes de mangás e light novels já finalizados: ACCA :13- Territory Inspection Dept. e Battery; de obras pertencentes a revistas pequenas, por exemplo, a Comic Cune e seus 4-komas; adaptações de webcomics como Mob Psycho 100 e ReLIFE.

A Volta dos mortos vivos:

O Luiz-sama e o Lau ro, nos últimos 3 anos, postaram inúmeras notícias de animes antigos, que depois de muito tempo, ganharam/ganharão remakes ou continuações. A lista é composta por: Ushio to Tora, Digimon, Arslan Senki, D. Gray-man, Tenchi Muyo, Sailor Moon, Sakura Cardcaptors, filme de Yu-gi Oh, Dragon Ball, ovas de Code Geass, Osomatsu, filme de Gantz, Berserk, Tiger Mask, Warau Salesman, Young Black Jack, Jigoku Shoujo, Atom, Kino no Tabi, Baki, Basilisk e FLCL.


Causa e Efeito

Toda revolução é filha de uma crise, esse caso não é diferente. Como sabemos o anime pode ser obra original ou adaptação de mangá, light novel ou visual novel. A revolução teve início com a crise da indústria de mangás, não é econômica, mas sim cultural. É necessário analisarmos os panoramas atuais das três principais revistas semanais japonesas de mangás. Nesse artigo não serão mencionados possíveis arrecadações das empresas e nem dos autores, porque não temos acesso a esses dados e pessoalmente não faço conta com o dinheiro dos outros. As revistas shoujo não serão mencionadas, devido à falta de conhecimento deste que vos escreve.

As 3 principais revistas japonesas são: Weekly Shonen Jump, Weekly Shonen Magazine e Weekly Shonen Sunday, sempre despertaram a atenção dos leitores. Todo mangaká tinha o sonho de ter uma obra de sucesso por mais de 10 anos ou várias obras de sucesso em uma dessas revistas, alguns realizaram seus sonhos, entre eles podemos citar: Hiro Mashima, Eiichiro Oda e Gosho Aoyama. Porém, não estão surgindo novos mangakás como esses 3, como muitos gostam de falar : “Não se fazem mais mangakás como antigamente”, ai entra aquela questão por que não temos novos Odas, Mashimas e Aoyamas?

A resposta disso é cultural, esses 3 senhores tem entre 40-54 anos de idade, foram influenciados querendo ou não por mangakás dos anos 70 e 80, dos quais podemos citar o imortal Osamu Tezuka que todo ano lançava vários mangás curtos, Mitsutoshi Furuya, Takao Yaguchi ,  Tetsuya Chiba, Go Nagai, Rumiko Takahashi, Tatsuya Hiruta, Osamu Akimoto e seu incansável Kochira, Akira Toriyama, entre outros.

Naquela época, ninguém sabia como era a vida de um mangaká, as crianças viam com admiração aqueles senhores que durante 10 anos interruptos desenhavam lindas histórias, que todo ano escreviam 2, 3 mangás novos.

Com o surgimento da internet tivemos\temos acesso a informações sobre o regime de trabalho dos mangakás que trabalham mais de 14 horas por dia, tiram dinheiro do próprio bolso para contratar ajudantes, sofrem danos permanentes devido ao trabalho excessivo, podemos até imaginar o porquê da última frase de Tezuka tenha sido: “Estou implorando-lhe, deixe-me trabalhar”.

Osamu Tezuka e suas obras!

Os novos mangakás e os jovens que tem o sonho de entrar na indústria possuem acesso a vários exemplos de mangakás que são completamente diferentes dos autores dos anos 70-80, nesta lista podemos citar: Daisuki Ashihara que parou World Trigger para cuidar de sua saúde, Hiromu Arakawa que diminuiu seu horário de trabalho para cuidar de um familiar, Yoshihiro Togashi que lança Hunter x Hunter quando tem vontade, Akira Toriyama e Kazuki Takahashi que aproveitam bem o lucro de suas obras, Yusei Matsui e seus 2 grandes sucessos de somente 4 anos de duração, os escritores de light novel que estão escrevendo obras mais curtas, Makoto Raiku que processou a editora responsável pela Weekly Shonen Sunday e depois na Weekly Shonen Magazine contrariou o editor da revista e encerrou Vector Ball.

Nos dias de hoje, o autor poderá ganhar dinheiro e fazer de várias maneiras, não existe mais a extrema dependência das grandes revistas semanais. Entre as inúmeras opções, podemos citar: As revistas mensais, invés de postar toda semana um capítulo de 18-20 páginas, o autor postará um capítulo mensal de 40-44 páginas, exemplo de obra mensal: Attack on titan; As revistas de menor expressão, ao trabalhar em uma dessas revistas de menor expressão, o mangaká sofrerá uma pressão menor, terá mais liberdade e tranquilidade de trabalho, exemplo de obra: Hinako Note; Publicação online digital, antigamente, quando uma obra deixava a publicação impressa e ia para a plataforma digital era considerada a decadência do autor, porém as coisas mudaram e várias obras de sucesso são publicadas nessas plataformas, os principais benefícios para os autores são a liberdade, visto que não existe tanta influência do editor, maior controle no tempo de publicação e pressão infinitamente menor comparada com uma Shonen Jump da vida. Entre as “revistas” digitais podemos citar Comico, Manga One, Manga Box, Pixiv e RegiMag.

Hinako Note, de Mitsuki, foi criado a partir uma publicação digital online e o anime foi um sucesso entre Abril à Junho 2017, ganhando grande aceitação do público.

Como essa alteração afeta a indústria de animes? A cada 3 meses, a indústria precisa de um grande números de animes, com a mudança cultural dos mangakás, temos uma redução na média de capítulos por mangás e na média de obras por autor. Com mangás mais curtos, teremos animes mais curtos e com menos obras por autor, precisa-se de mais autores tendo obras adaptadas.

Conclusão:

A indústria, durante vários anos, vem fazendo mudanças constantes, visando adequar-se ao material disponível para adaptações em formato de anime, a primeira artimanha utilizada foi fazer o capítulo render, se antes 1 episódio adaptava 10 capítulos, vamos fazer adaptar 1, Namekusei vai explodir, próximo passo foi criar o temível “filler”, cada filler criado é um episódio sem utilizar o material original, ou seja, quanto mais fillers mais episódios, a mágica de transformar um anime que teria 80 episódios em 120, além de dar mais tempo para o mangaká escrever ou para o comitê escolher um substituto. Só que isso não foi suficiente, veio o segundo passo, a expansão do número de gêneros adaptados em animes, já que não temos robôs gigantes, quebra-pau ou esportes suficientes, é hora de dar chance para outros gêneros, assim surgem os animes que são do lado moe da força, sobre idols, que abordam bandas musicais, os slice of life, o yaoi, o yuri, os animes curtos de 5 minutos e etc.

Porém, ainda foi insuficiente por isso substituiu-se o modelo anual, pelo semestral e posteriormente pelo sazonal, isso mesmo os animes de 12 episódios, com essa alteração o leque de possíveis adaptações aumentou enormemente, mesmo que a obra original tenha pouquíssimos capítulos poderia ser adaptada, pensou-se que o problema da falta de material estava resolvido, mas com a expansão dos serviços de streaming e o alto número de obras desperdiçadas com finais originais e adaptações ruins, foi necessária uma nova mudança para suprir a demanda, obras antes consideradas desinteressantes para terem adaptações, obras não-japonesas, animes que só tiveram uma temporada e foram descartados, começaram a receberem novas adaptações.

O futuro é impossível prever, mas hoje a tendência é que cada vez mais obras digitais ganhem adaptações, que autores internacionais tenham espaço cada vez maior, os fillers e adaptações em ritmos lentos continuarão e cada vez mais serão produzidas continuações inesperada, remakes e reboots.

Se você leu até aqui e não ofendeu ninguém, merece ganhar essa medalha:


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