A Arte do Shogi #11 – Graduação no Shogi

Olá, pessoal!

Muito obrigado por continuarem acompanhando a minha coluna aqui no Anime Xis.

Hoje eu vou falar sobre um assunto bem interessante sobre o mundo do shogi que pode ajudar vocês a definirem metas. E vou contar qual é a minha.

Espero que gostem.

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No xadrez, os jogadores possuem uma pontuação chamada rating para determinar as suas habilidades.

Em sites, você começa com uma pontuação padrão (no Lichess, por exemplo, o saldo inicial é de 1500 pontos). Conforme vence pessoas mais habilidosas, sua pontuação sobe (e seus oponentes vão perdendo pontos). Se perder partidas, sua pontuação vai cair (e quem lhe derrotar terá uma pontuação maior).Claro que pode chegar uma hora que a quantidade de pontos que você ganha por derrotar sempre a mesma pessoa é irrisória. O que fomenta a necessidade de cada jogador procurar outros oponentes e ainda mais fortes.

A pontuação de sites não é usada em torneios, mas serve de parâmetro. Quando alguém participa de um torneio e dependendo da instituição que o organiza, passa a ter rating FIDE (a instituição máxima do xadrez mundial) e as regras ainda são as mesmas para ganho e perda de pontos.

No shogi, o ranking de um jogador é medido de uma forma diferente e muito curiosa, lembrando até uma faixa de artes marciais. Farei a minha explicação em três categorias:

  • Amador;
  • Profissional feminino;
  • Profissional masculino.

No amador, um jogador começa com um nível chamado kyu (ou kyuu). Quanto maior o kyu, mais inexperiente ele é.

O nível de kyu varia conforme o espaço que o analisa. A Associação Brasileira de Shogi(ABS para agilizar a leitura) dá aos novatos o 30º kyu. Já o site 81 Dojo dá 9º kyu.

Quanto mais você aprende e derrota pessoas de níveis iguais ou superiores ao seu, mais o seu nível de kyudiminiu.

Quando você ultrapassa o 1º kyu, torna-se automaticamente um jogador de 1º Dan, que seria algo como a faixa preta das artes marciais.

Recapitulando e usando o sistema da ABS como referência:

30º kyu (mais fraco) < 29º kyu< 28º kyu… < 1º kyu< 0 kyu = 1º Dan

 

O que você precisa saber ou fazer para alcançar rankings mais elevados de kyu na ABS. Observação: as regras foram escritas por japoneses que aprenderam português sem plena fluência. Por favor, perdoem os erros.

Daí vocês podem se perguntar: o 1º Dan é o topo?

E eu digo: não.

Nas artes marciais de origem japonesa é possível um lutador se especializar ainda mais e conseguir mais Dans: 1º Dan, 2º Dan e assim por diante.

No shogi também é possível. A ABS e os sites também dão 1º Dan, 2º Dan e assim por diante, tendo o limite de 6º Dan na ABS (outros espaços podem conceder mais Dans). Ou seja: no kyu, a habilidade é medida por pontuação menor. Quando se alcança o Dan, a força passa a ser por pontuação maior.

Recapitulando e completando:

30º kyu< 29º kyu< 28º kyu… < 1º kyu< 0 kyu = 1º Dan < 2º Dan < 3º Dan…

Agora vamos explicar como funciona o mundo dos profissionais.

Karolina KrystynaStyczynska conheceu o shogi aos 17 anos e passou a jogar na internet até 5 horas por dia quando foi convidada a fazer o processo seletivo e se tornou jogadora profissional.

Em primeiro lugar, só há jogadores profissionais no Japão, reconhecidos pela Shoureikai (organização dedicada à formação de jogadores profissionais, administrada pela Confederação de Shogi do Japão). A única exceção conhecida é a polaca Karolina KrystynaStyczynska, que se tornou profissional após ser convidada pelo seu instrutor e tentar obter seu título.

Em segundo lugar, se tornar um jogador profissional não é nada fácil. Homens só podem tentar uma vaga até os 19 anos e mulheres precisam ter até 25 para conseguirem uma vaga. E no caso dos homens, além da alta concorrência, a Shoureikai aprova até 4 pessoas por ano. Dureza, não acham?

Na categoria feminina, as jogadoras começam no Ikusei-kai, que é um curso preparatório. Apesar de não ter uma hierarquia, as jogadoras desse nível já podem ser habilidosas ao ponto de derrotar jogadores amadores de kyus mais baixos.

Depois que elas saem desta parte, vão direto para o 2º kyu. E daí em diante, na mesma forma do amador: ao diminuir a pontuação e zerar, vão para o Dan. E no caso delas, podem ir até o 8º Dan.

Resumindo:

Ikusei-kai< 2º kyu< 1º kyu<1º kyu< 0 kyu = 1º Dan < 2º Dan… < 8º Dan.

Em minha humilde opinião, a jogadora MadokaKiato merece todo o reconhecimento na categoria. Além de jogadora de 2º Dan, ela também é criadora da versão infantil de shogi, o DobutsuShogi.

MadokaKitao e sua criação, o DobutsuShogi

Na categoria masculina, os jogadores vão do 6º kyu seguindo normalmente com a evolução do kyu para o Dan. A diferença é que eles alcançam até o 9º Dan.

Exemplificando:

Ikusei-kai< 2º kyu< 1º kyu<1º kyu< 0 kyu = 1º Dan < 2º Dan… < 9º Dan.

Na categoria masculina, sou um fã incondicional de YoshiharuHabu, jogador de 9º Dan e também enxadrista de mão cheia. Vejam uma partida dele no xadrez aqui.

YoshiharuHabu, 9º Dan de shogi e enxadrista.

Apesar dos números parecem iguais, não achem que jogadores de mesma categoria são equivalentes. Um jogador amador de 1º Dan, por exemplo, tem mais chances para perder para um jogador profissional de 1º Dan. Profissionais vivem disso, estudando horas por dia, participando de torneios e só podem jogar torneios on-line com autorização (!!!). É um nível totalmente diferente do nosso.

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E para finalizar, uma confissão: atualmente eu sou jogador de 1º kyu. Joguei uma partida contra o presidente da ABS em uma das minhas reuniões mensais na Vergueiro e conquistei um certificado assinado pelo próprio Yoshida-san. Foi algo muito gratificante, mas tenho o sonho de conseguir pelo menos o 1º Dan. E não o quero apenas como um título na internet: quero um certificado de alguma instituição reconhecendo a minha força. Depois disso, posso até pensar em participar de algum torneio…

Meu certificado (até mandei plastificar!) de 1º kyu

E vocês? Possuem algum sonho no mundo do shogi? Contem nos comentários…

Indicando Shogi

E no nosso quadro mensal, vou indicar o vídeo que me ajudou a criar boa parte desse conteúdo (o restante das informações foram obtidas com visitas na ABS e com uma revista distribuída durante o Brasil ShôguiMeijin-Sem, de 2019, que ocorreu em São Paulo).

Muito obrigado a todos(as) e até a próxima!

Por Davi Paiva

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Davi Paiva nasceu em São Paulo, capital, em 1987. É graduado em Letras pela Universidade Cruzeiro do Sul. Participou de várias antologias de contos por diversas editoras, inclusive nas obras “Poderes”,“Monstros entre Nós”, “Guerreiros” e “Magos” pela Darda Editora, onde foi coautor e organizador, e é autor do livro “Cavaleiro Negro”, que também saiu pela mesma editora.

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