A Arte do Shogi #09 – Como Ler um Kifu / Notação de uma Partida

Chegamos ao nosso mensal Arte do Shogi em um dos artigos mais detalhados até agora, vem com a gente aprender mais sobre essa arte milenar japonesa!

Olá, pessoal!

Obrigado por continuarem acompanhando a minha coluna aqui no Site Anime Xis.

Hoje vou ensinar um assunto tão delicado que eu precisei rever todos os meus materiais de consulta, pedir ajuda ao meu mestre Danilo Emboaba e ainda pesquisar ainda mais informações!

Espero que gostem.

*

Da mesma forma que é possível registrar uma partida de xadrez, uma partida de Shogi pode ser expressada por meio de um código criado em 1976. Tal notação tem um nome: Kifu.

E como ele é feito?

Vamos começar primeiro pelo tabuleiro.

As colunas de um tabuleiro sempre são registradas com números indo-arábicos (o que usamos normalmente no ocidente) de 1 a 9 de ordem decrescente da esquerda para a direita.

Já as fileiras podem ser registradas de três formas:

  • De 1 a 9 em japonês, de cima para baixo: 一 (1), 二(2), 三(3), 四(4), 五(5), 六 (6), 七 (7), 八(8) e 九 (9);
  • Com letras de “a” a “i”, também de cima para baixo;
  • Com números também indo-arábicos, de cima para baixo.

Tudo isso do ponto de vista do Sentê.

Logo, a primeira casa no canto inferior direito pode ser chamada de “1九”se usarmos a primeira forma, “1i” na segunda e “1-9” na terceira. Todas estão corretas.

Tabuleiro com as três formas de registrar as fileiras: com algarismos japoneses, com letras e números ocidentais.

Para fins de registro e padronização com um grande aliado no ensino de Shogi em português, que é a galera do “Recanto do Shogi”, vamos usar a segunda opção. Istoé, fileiras com letras.

E as peças? Como podemos registrar?

De duas formas: com kanjis japoneses ou siglas em inglês.

Na primeira forma, temos a seguinte tabela:

Ideograma que simboliza as peças em japonês.

Já em inglês, temos:

  • P – Pawn (Peão),
  • G – Gold (General de Ouro),
  • S – Silver (General de Prata),
  • L – Lance (Lança),
  • N – Knight (Cavalo),
  • B – Bishop (Bispo),
  • R – Rook (Torre),
  • K – King (Rei).

E para fins de alinhamento, vamos usar as abreviações em inglês.

“Mas Davi, e se eu quiser continuar me aprimorando em japonês?” é algo que alguém pode me perguntar.

Em primeiro lugar, eu não vejo problema nenhum. É até bom que mais pessoas procurem mais meios de aprender por fontes confiáveis. E segundo, você só tem a ganhar se aprender a ler um Kifu no idioma original da nação que criou o jogo. De repente, você poderá estudar sem depender de traduções.

E para mais informações, leia aqui como aprender a ler um Kifu em anotação japonesa.

Agora uma comparação e um adendo pessoal.

No xadrez, a notação de uma partida ocorre da seguinte forma:

  1. e4 e5
  2. Cf3 Cc6
  3. Bb5

O que isso quer dizer: que as brancas começaram movendo um Peão paraa casa e4 (no xadrez o Peão não tem sigla a não ser em situações muito específicas) e as pretas jogaram um Peão na e5. O Cavalo (C) branco foi colocado na casa f3 ameaçando o Peão preto e o Cavalo colocado em c6 deu a cobertura ao aliado avançado. Mas o Bispo (B) colocado em b5 pode acabar com tal defesa.

No Shogi, o movimento do Sentê é simbolizado por uma peça preta: ☗

Já o movimento do Gotê é marcado por uma peça branca: ☖

Portanto, quando dizemos:

1.☗P-2f 2.☖R-5b 3.☗S-6h 4.☖P-3d

Queremos dizer que:

O Peão (P) do Sentê foi para a casa 2f (coluna / fileira);

A Torre (R) do Gotê foi para a casa 5b;

O General de Prata (S) do Sentê foi para a casa 6h;

O Peão do Gotê foi para a casa 3d.

Todavia, o uso dos símbolos não é obrigatório. Alguns aplicativos não fazem uso dos mesmos quando dão a notação da partida. Logo, você sabe quem fez cada jogada pela ordem numérica.

Tabuleiro após o lance 4.☖P-3d

Fazendo uma comparação com o xadrez, podemos perceber que o lance 1 é caracterizado pelas ações dos dois jogadores. Só depois eles vão para o segundo lance.

Já no Shogi, lance 1 é o do Sentê e o lance 2 é o do Gotê. E tudo pode ser escrito na mesma linha.

O que pretendo firmar com vocês, leitores dos meus artigos: para ficar um pouco mais harmônico e agradável de se ler, farei os lances de Sentê e Gotê na mesma linha e assim ir até o final da partida.

Logo, a mesma partida que descrevi antes ficaria assim:

1.☗P-2f 2.☖R-5b

3.☗S-6h 4.☖P-3d

Bem melhor de ler, não acham?

No xadrez, também usamos símbolos para indicar quando houve uma captura de peça, xeque e outras ações. E o Shogi não é exceção.

Neste simples jogo, temos:

1.☗P-2f 2.☖P-2d

3.☗P-2e 4.☖Px2e

Como podem ver, as movimentações sempre são feitas com um traço e as capturas são marcadas por um “x”.

Tabuleiro com todas as jogadas passo a passo.

E as outras situações?

Vamos a cada uma:

Sinal de +: se estiver no final da anotação, quer dizer que a peça fez uma ação (movimento ou captura) e acabou sendo promovida. Exemplo: 5.☗Rx2b+ quer dizer que o Sentê usou a Torre (R) para capturar algo em 2b e ainda promoveu a sua peça.

Agora se estiver antes da peça, quer dizer que ela é uma peça promovida que está se movimentando. Exemplo: 7.☗+Rx2h quer dizer que o Sentê movimentou uma Torre Promovida (+R) para a casa 2h.

Sinal de *: quer dizer que a peça foi reposta no tabuleiro. Exemplo: 7.☗B*x1e quer dizer que o Sentê repôs um Bispo (B) na casa 1e.

Sinal de =: quer dizer que a peça teve chance de ser promovida, mas o controlador não quis. Exemplo: :5.☗Rx2b+ quer dizer que o Sentê usou a Torre (R) para capturar algo em 2b, mas não quis promover a sua peça.

No Shogi, não usamos sinais para indicar xeques ou mates.

É isso. Espero que tenham gostado.

Indicando Shogi

O artigo deste mês foi difícil até para mim. Por isso, além do link que deixei anteriormente, quero deixar mais materiais para vocês estudarem.

Querem aprofundar ainda mais os seus conhecimentos em Kifu na língua japonesa? Leiam aqui.

Querem ler outros artigos para verem o mesmo assunto com outra didática? Temos aqui e aqui.

Preferem um vídeo? Temos aqui.

Muito obrigado a todos(as) e até a próxima!

Muito obrigado a todos(as) e até a próxima!

Por Davi Paiva

Leia mais aqui!

Davi Paiva nasceu em São Paulo, capital, em 1987. É graduado em Letras pela Universidade Cruzeiro do Sul. Participou de várias antologias de contos por diversas editoras, inclusive nas obras “Poderes”,“Monstros entre Nós”, “Guerreiros” e “Magos” pela Darda Editora, onde foi coautor e organizador, e é autor do livro “Cavaleiro Negro”, que também saiu pela mesma editora.

Publica seus textos no blog detonerds.blogspot.com.br e no site Animexis.com.br

Contato com o autor: davi_paiv@hotmail.com ou via Facebook: facebook.com/davipaivalivrosetextos/